sábado, 24 de setembro de 2011

Transe Mediúnico


O mundo está mudando rápido, e nós temos que nos adaptar a essas novas mudanças. O conceito de Saúde também vem mudando. Antigamente significava somente ausência de uma doença. Depois, tivemos uma visão mais abrangente; a Organização Mundial de Saúde - OMS – classificou que saúde era um estado de completo bem-estar físico e mental, não consistindo somente na ausência de uma doença ou enfermidade. E esse conceito também já mudou. Desde 1998 a OMS incluiu o bem-estar espiritual como uma das definições de saúde, ao lado do aspecto físico, mental e social.
Então, hoje não basta apenas falarmos de uma boa alimentação para os órgãos funcionarem direito. Precisamos incluir no nosso conceito de saúde o aspecto psicoemocional, sentimental, nossas relações e nossa bioenergia.
Quando vamos buscar um tratamento, precisamos integrar todas essas abordagens, entendendo que o funcionamento do corpo reflete diretamente nas emoções, que podem ser equilibradas ou não, e irão refletir imediatamente nas nossas ações, que vão definir a qualidade da nossa vida e as tristezas da alma.
Essa conscientização mais abrangente do que é saúde também vem acontecendo na forma de classificar as doenças.
Problemas espirituais são reconhecidos pela medicina como possessão e estado de transe, como é mencionado num item do CID 10- Código Internacional das Doenças.
Em F44.3, rotula o chamado Estado de Transe e Possessão: “Trata-se de um transtorno caracterizado por uma perda transitória da consciência de sua própria identidade, associada a uma conservação perfeita da consciência do meio do meio ambiente. Devem ser incluídos nesse diagnóstico somente estados de transe involuntário e não desejados, excluindo aqueles de situações admitidas no contexto cultural ou religioso do sujeito.”
Vemos assim a preocupação da psiquiatria em fazer distinção entre o estado de transe patológico dos psicóticos, que seriam doentios, e o estado de transe que acontece por incorporações ou influências energéticas.
Rubim de Pinho, professor de Psiquiatria da Universidade Federal da Bahia, pesquisou profundamente essa área, e refere-se à possessão como um estudo da Psiquiatria Transcultural. Ele afirma existir muitos comportamentos, diferentes reações da personalidade, formas de expressão formados por condicionamentos culturais e isso precisa ser muito bem avaliado quando buscamos um diagnostico para não ser confundido com distúrbios mentais.
No Tratado de Psiquiatria de Kaplan e Sadock, no capítulo que estuda as personalidades, há uma diferença entre as personalidades que recebem a atuação de espíritos e as dos outros que são doentes. Portanto, a psiquiatria já faz a distinção entre o estado transe normal e o dos psicóticos, que seriam doentios.
Dr. Sérgio Felipe de Oliveira, médico que coordena a cadeira (hoje obrigatória) de Medicina e Espiritualidade, na USP, entende que:



“A Psiquiatria já faz a distinção entre o estado de transe normal e dos psicóticos, que seriam anormais ou doentios. O manual de estatística de desordens mentais da Associação Americana de Psiquiatria – DSM IV - alerta que o médico deve tomar cuidado para não diagnosticar de forma equivocada, como alucinação ou psicose, casos de pessoas de determinadas comunidades religiosas que dizem ver ou ouvir espíritos de pessoas mortas, porque isso pode não significar uma alucinação ou loucura.”


 Esse é um assunto fascinante que já envolveu grandes mentes, como a de Carl Gustav Jung. Criador da Psicologia Analítica, em 1902, ele defendeu a tese Psicologia e Patologia dos Fenômenos ditos Ocultos, onde estuda uma jovem médium espírita e suas incorporações. Ele dedicou boa parte de seu trabalho ao estudo dos sonhos e das visões.
Também temos Franz Anton Mesmer, no séc. XVIII, com seus atendimentos com transes e passes magnéticos, sem conotações sobrenaturais.
De forma geral, temos vários relatos de êxtase místico de mongens católicos e os rituais de exorcismo. Temos também as experiências xamânicas, onde o xamã se retira do convívio da tribo e se prepara para ter suas visões e incorporações voltadas à cura.
Os sacerdotes egípcios tinham seus templos de sono, onde somente iniciados tinham acesso. Eram induzidos pelos sacerdotes ao sono hipnótico, produzindo estados alterados de consciência.
Na Grécia Antiga temos relatos de incorporações e transes realizados pelas pitonisas, no Templo de Delphos, onde acreditavam incorporar o grande deus grego Zeus, fazendo previsões sobre o futuro, a saúde e os problemas de cada um.
Se pesquisarmos a fundo, a maioria das culturas terão relatos de incorporações.
No Brasil, berço do Candomblé e da Umbanda, temos as incorporações de orixás e guias espirituais.
No Candomblé, ao som dos atabaques, as pessoas entram em transe e incorporam seu orixá com movimentos próprios, vestes com cores específicas, comidas características, e objetos próprios desse orixá.
Já na Umbanda, são os espíritos que se apresentam nas correntes dos caboclos, pretos-velhos, crianças, etc.
Na Idade Média, tínhamos o transe das bruxas, visto como uma ferramenta de transformação. Também temos o transe anímico, como magia interna, onde se conecta com a própria essência, a alma de toda magia; os rituais e celebrações de solstícios dos celtas, onde as pessoas eram preparadas para esse trabalho interno de entrar em contato com forças da natureza, os elementais, hipnoses, um caminho para encontrar a deusa ou o deus.
No século XIX, temos Allan Kardec, organizando, codificando a doutrina espírita, com base em informações recebidas por médiuns, formando as cinco obras básicas da doutrina espírita.
Mais recentemente, nosso querido Chico Xavier nos deixou um vasto material de pesquisa com suas psicografias.
Cada vez mais precisamos começar a fazer uma distinção entre os estados de transe que são patológicos, provocados por uma doença, e os que ocorrem por incorporação e ação dos espíritos, sem qualquer alteração ou prejuízo do cotidiano da pessoa, seu desempenho na vida social, profissional, afetiva.
“O desenvolvimento mediúnico não deve ser visto como um problema, e sim, com responsabilidade, possibilitando o aprimoramento do ser.”
Percebemos a diferença quando a pessoa escolhe fazer uma participação voluntária de uma sessão, culto ou ritual, com certo controle e entendimento da situação, muitas vezes com um grupo de pessoas também preparadas para dar sustentação e auxilio, daqueles que entram em transe em qualquer lugar, sem perceber o que estão fazendo, totalmente fora do contexto, podendo colocar em risco a sua saúde e a dos outros.
Os espíritas estão familiarizados com os conceitos de desenvolvimento mediúnico, e sabemos que esse é um belo caminho de aprendizado e evolução. Esse desenvolvimento mediúnico não deve ser visto como um problema, e sim, com responsabilidade, possibilitando o aprimoramento do ser. Sabemos que nossos problemas emocionais e nossos valores influenciam diretamente na qualidade das nossas percepções e, consequentemente, no desenvolvimento da mediunidade.
Ainda hoje, infelizmente, temos relatos de pessoas sendo discriminadas por serem mais sensíveis, tomando medicamentos com tarja preta pelo resto da vida porque tiveram uma visão ou afirmaram estar ouvindo vozes, quando o correto seria uma investigação mais profunda dobre sua capacidade mediúnica antes de ter um diagnóstico de psicose.
Adriana Splendore.
PAZ E LUZ!

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