O
mundo está mudando rápido, e nós temos que nos adaptar a essas novas mudanças.
O conceito de Saúde também vem mudando. Antigamente significava somente
ausência de uma doença. Depois, tivemos uma visão mais abrangente; a
Organização Mundial de Saúde - OMS – classificou que saúde era um estado de
completo bem-estar físico e mental, não consistindo somente na ausência de uma
doença ou enfermidade. E esse conceito também já mudou. Desde 1998 a OMS
incluiu o bem-estar espiritual como uma das definições de saúde, ao lado do
aspecto físico, mental e social.
Então,
hoje não basta apenas falarmos de uma boa alimentação para os órgãos
funcionarem direito. Precisamos incluir no nosso conceito de saúde o aspecto
psicoemocional, sentimental, nossas relações e nossa bioenergia.
Quando
vamos buscar um tratamento, precisamos integrar todas essas abordagens,
entendendo que o funcionamento do corpo reflete diretamente nas emoções, que
podem ser equilibradas ou não, e irão refletir imediatamente nas nossas ações,
que vão definir a qualidade da nossa vida e as tristezas da alma.
Essa
conscientização mais abrangente do que é saúde também vem acontecendo na forma
de classificar as doenças.
Problemas
espirituais são reconhecidos pela medicina como possessão e estado de transe,
como é mencionado num item do CID 10- Código Internacional das Doenças.
Em
F44.3, rotula o chamado Estado de Transe e Possessão: “Trata-se de um
transtorno caracterizado por uma perda transitória da consciência de sua
própria identidade, associada a uma conservação perfeita da consciência do meio
do meio ambiente. Devem ser incluídos nesse diagnóstico somente estados de
transe involuntário e não desejados, excluindo aqueles de situações admitidas
no contexto cultural ou religioso do sujeito.”
Vemos
assim a preocupação da psiquiatria em fazer distinção entre o estado de transe
patológico dos psicóticos, que seriam doentios, e o estado de transe que
acontece por incorporações ou influências energéticas.
Rubim
de Pinho, professor de Psiquiatria da Universidade Federal da Bahia, pesquisou
profundamente essa área, e refere-se à possessão como um estudo da Psiquiatria
Transcultural. Ele afirma existir muitos comportamentos, diferentes reações da
personalidade, formas de expressão formados por condicionamentos culturais e
isso precisa ser muito bem avaliado quando buscamos um diagnostico para não ser
confundido com distúrbios mentais.
No
Tratado de Psiquiatria de Kaplan e Sadock, no capítulo que estuda as
personalidades, há uma diferença entre as personalidades que recebem a atuação
de espíritos e as dos outros que são doentes. Portanto, a psiquiatria já faz a
distinção entre o estado transe normal e o dos psicóticos, que seriam doentios.
Dr.
Sérgio Felipe de Oliveira, médico que coordena a cadeira (hoje obrigatória) de
Medicina e Espiritualidade, na USP, entende que:
“A Psiquiatria já faz a distinção entre o estado
de transe normal e dos psicóticos, que seriam anormais ou doentios. O manual de
estatística de desordens mentais da Associação Americana de Psiquiatria – DSM
IV - alerta que o médico deve tomar cuidado para não diagnosticar de forma
equivocada, como alucinação ou psicose, casos de pessoas de determinadas
comunidades religiosas que dizem ver ou ouvir espíritos de pessoas mortas,
porque isso pode não significar uma alucinação ou loucura.”
Esse é um assunto fascinante que já envolveu
grandes mentes, como a de Carl Gustav Jung. Criador da Psicologia Analítica, em
1902, ele defendeu a tese Psicologia e
Patologia dos Fenômenos ditos Ocultos, onde estuda uma jovem médium
espírita e suas incorporações. Ele dedicou boa parte de seu trabalho ao estudo
dos sonhos e das visões.
Também
temos Franz Anton Mesmer, no séc. XVIII, com seus atendimentos com transes e passes
magnéticos, sem conotações sobrenaturais.
De
forma geral, temos vários relatos de êxtase místico de mongens católicos e os
rituais de exorcismo. Temos também as experiências xamânicas, onde o xamã se
retira do convívio da tribo e se prepara para ter suas visões e incorporações
voltadas à cura.
Os
sacerdotes egípcios tinham seus templos de sono, onde somente iniciados tinham
acesso. Eram induzidos pelos sacerdotes ao sono hipnótico, produzindo estados
alterados de consciência.
Na
Grécia Antiga temos relatos de incorporações e transes realizados pelas
pitonisas, no Templo de Delphos, onde acreditavam incorporar o grande deus
grego Zeus, fazendo previsões sobre o futuro, a saúde e os problemas de cada
um.
Se
pesquisarmos a fundo, a maioria das culturas terão relatos de incorporações.
No
Brasil, berço do Candomblé e da Umbanda, temos as incorporações de orixás e
guias espirituais.
No
Candomblé, ao som dos atabaques, as pessoas entram em transe e incorporam seu
orixá com movimentos próprios, vestes com cores específicas, comidas
características, e objetos próprios desse orixá.
Já na
Umbanda, são os espíritos que se apresentam nas correntes dos caboclos,
pretos-velhos, crianças, etc.
Na
Idade Média, tínhamos o transe das bruxas, visto como uma ferramenta de
transformação. Também temos o transe anímico, como magia interna, onde se
conecta com a própria essência, a alma de toda magia; os rituais e celebrações
de solstícios dos celtas, onde as pessoas eram preparadas para esse trabalho
interno de entrar em contato com forças da natureza, os elementais, hipnoses,
um caminho para encontrar a deusa ou o deus.
No
século XIX, temos Allan Kardec, organizando, codificando a doutrina espírita,
com base em informações recebidas por médiuns, formando as cinco obras básicas
da doutrina espírita.
Mais
recentemente, nosso querido Chico Xavier nos deixou um vasto material de
pesquisa com suas psicografias.
Cada
vez mais precisamos começar a fazer uma distinção entre os estados de transe
que são patológicos, provocados por uma doença, e os que ocorrem por
incorporação e ação dos espíritos, sem qualquer alteração ou prejuízo do
cotidiano da pessoa, seu desempenho na vida social, profissional, afetiva.
“O desenvolvimento
mediúnico não deve ser visto como um problema, e sim, com responsabilidade,
possibilitando o aprimoramento do ser.”
Percebemos
a diferença quando a pessoa escolhe fazer uma participação voluntária de uma
sessão, culto ou ritual, com certo controle e entendimento da situação, muitas
vezes com um grupo de pessoas também preparadas para dar sustentação e auxilio,
daqueles que entram em transe em qualquer lugar, sem perceber o que estão
fazendo, totalmente fora do contexto, podendo colocar em risco a sua saúde e a
dos outros.
Os
espíritas estão familiarizados com os conceitos de desenvolvimento mediúnico, e
sabemos que esse é um belo caminho de aprendizado e evolução. Esse
desenvolvimento mediúnico não deve ser visto como um problema, e sim, com responsabilidade,
possibilitando o aprimoramento do ser. Sabemos que nossos problemas emocionais
e nossos valores influenciam diretamente na qualidade das nossas percepções e,
consequentemente, no desenvolvimento da mediunidade.
Ainda
hoje, infelizmente, temos relatos de pessoas sendo discriminadas por serem mais
sensíveis, tomando medicamentos com tarja preta pelo resto da vida porque
tiveram uma visão ou afirmaram estar ouvindo vozes, quando o correto seria uma
investigação mais profunda dobre sua capacidade mediúnica antes de ter um
diagnóstico de psicose.
Adriana
Splendore.
PAZ
E LUZ!
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